Denúncia do MPE aponta “relação de amizade e compadrio” entre servidora que cuidava de licitações e empresário presos na Operação Águas Turvas.
Denúncia apresentada pelo Grupo Especial de Combate à Corrupção (Gecoc) aponta amizade e compadrio entre dois presos na Operação Águas Turvas, realizada no Município de Bonito, administrado por Josmail Rodrigues.
Diálogos flagrados pela polícia, após quebra de sigilo telefônico, mostram a relação próxima entre a responsável pelo setor de licitações, Luciane Cintia Pazette, e o empreiteiro Genilton Moreira.
Um dos diálogos flagrados mostra Genilton chamando Luciane de Comadre. Ela responde que precisa ficar arrumando as coisas para ele, que é muito desorganizado.
Segundo a denúncia, há evidências do favorecimento dado por Luciane a Genilton, com informações privilegiadas e no auxílio a fraudes em processos para beneficia-lo.
O Gecoc destaca conversa de 3 de maio de 2022, onde Luciane encaminha uma imagem de um documento para Genilton, chamando atenção para o valor. O empresário demonstra surpresa e solicita a planilha. A servidora responde que não está com ela, mas que enviará assim que conseguir.
No entendimento do Gecoc, Luciane encaminhou, de maneira antecipada, a imagem de um documento referente a um processo de licitação pública.
Brinde para o esposo vereador
Pouco tempo depois, a servidora retoma a conversa para solicitar um “brinde” para montar uma cesta para “fazer política para o marido”, o vereador Pedro Marambaia.
Luciane Cintia volta a cobrar brinde em outra data e recebe um pix de R$ 120. Em outro diálogo, solicita apoio para compra de cinco brindes.
Empresário tinha poder de decisão
O Gecoc ainda aponta a influência do empreiteiro em decisões na prefeitura. Em junho de 2022, Luciane envia mensagem a Genilton sobre a possibilidade de emitir ordem de início de serviço para uma ponte. Genilton sugere segunda, mas Luciane Cíntia afirma que ele falou quarta. Todavia, afirma que “vai enrolar”.
Águas Turvas
O Gecoc prendeu quatro pessoas e cumpriu 15 mandados de busca e apreensão em operação contra corrupção em Bonito. Foram presos o secretário de Finanças, Edilberto Cruz, a responsável pelo setor de licitações, Luciane Cintia Pazette, Carlos Henrique Sanches Corrêa, e o empreiteiro Genilton Moreira.
A operação investiga uma possível organização criminosa que fraudava licitações, praticando corrupção ativa e passiva, lavagem de dinheiro, dentre outros delitos correlatos na Prefeitura de Bonito.
“A investigação constatou a existência de uma organização criminosa que atua fraudando, sistematicamente, licitações de obras e serviços de engenharia no Município de Bonito, desde 2021”, diz nota do MPE.
Segundo a investigação, são inúmeras licitações fraudadas mediante simulação de concorrência e previsão de exigências específicas estipuladas para direcionar o objeto do certame às empresas pertencentes ao grupo criminoso.
Os agentes públicos, em conluio com os empresários, forneciam informações privilegiadas e organizavam a fraude procedimental, com vistas ao sucesso do grupo criminoso, mediante recebimento de vantagens indevidas.
Os contratos apurados até o momento atingem o valor de R$ 4.397.966,86. Segundo o MPE, “Águas Turvas”, termo que dá nome à operação, faz alusão a algo que perdeu a transparência ou limpidez, e contrasta com a imagem do Município de Bonito, reconhecido por suas belezas naturais e águas cristalinas, que, contudo, vêm sendo maculada pela atuação ilícita dos investigados.