As investigações do Ministério Público Estadual revelaram a existência de uma figura central e misteriosa, apelidada de “Pouca Sombra”, que seria o comandante de um esquema de corrupção investigado na Operação Águas Turvas, em Bonito, administrada por Josmail Rodrigues (PL).
Segundo diálogos interceptados, esse agente público, descrito como sendo “de baixa estatura e do alto escalão” do município, estaria por trás das fraudes operadas no setor de licitações.
As conversas que constam no relatório do GECOC mostram a servidora Luciane Cintia Pazette, então gerente de licitações, em diálogo com o empresário Genilton Moreira, proprietário da Base Construtora e Logística, sobre o direcionamento de um contrato milionário.
Em determinado momento, ela questiona se o empresário já havia fechado um “acordo com pouca sombra”, indicando que a aprovação final para a fraude passava por essa figura. “Malaaaa. Você entrou num acordo… com pouca sombra”, indaga.
Luciane ainda solicita um rascunho de possível acordo e Genilton responde que não estava com elas, pois havia deixado com o “pouca sombra”.
A identidade do “Pouca Sombra” ainda é um dos focos da investigação, mas sua menção nos diálogos comprova, para o MP, que o esquema era hierarquizado e tinha a participação de figuras do primeiro escalão da prefeitura.
Genilton e Luciane foram presos na Operação Águas Turvas, realizada pelo Gecoc na terça-feira. Genilton tinha saído da prisão há pouco tempo. Ele foi preso por esquema de corrupção no Município de Terenos, no dia 9 de setembro.
Águas Turvas
O Gecoc realizou uma operação para investigar uma possível organização criminosa que fraudava licitações, praticando corrupção ativa e passiva, lavagem de dinheiro, dentre outros delitos correlatos na Prefeitura de Bonito.
“A investigação constatou a existência de uma organização criminosa que atua fraudando, sistematicamente, licitações de obras e serviços de engenharia no Município de Bonito, desde 2021”, diz nota do MPE.
Foram cumpridos quatro mandados de prisão preventiva e 15 mandados de busca e apreensão, nos Municípios de Campo Grande, Bonito, Terenos e Curitiba (PR). Foram presos o secretário de Finanças, Edilberto Cruz, a responsável pelo setor de licitações, Luciane Cintia Pazette, Carlos Henrique Sanches Corrêa e Genilton.
Segundo a investigação, são inúmeras licitações fraudadas mediante simulação de concorrência e previsão de exigências específicas estipuladas para direcionar o objeto do certame às empresas pertencentes ao grupo criminoso.
Os agentes públicos, em conluio com os empresários, forneciam informações privilegiadas e organizavam a fraude procedimental, com vistas ao sucesso do grupo criminoso, mediante recebimento de vantagens indevidas.
Os contratos apurados até o momento atingem o valor de R$ 4.397.966,86. Segundo o MPE, “Águas Turvas”, termo que dá nome à operação, faz alusão a algo que perdeu a transparência ou limpidez, e contrasta com a imagem do Município de Bonito, reconhecido por suas belezas naturais e águas cristalinas, que, contudo, vêm sendo maculada pela atuação ilícita dos investigados.













