As editorias de Política e Polícia na imprensa de Mato Grosso do Sul ganharam alguns personagens que normalmente seriam figuras de destaque nas colunas sociais. Um deles é o milionário pecuarista Nelson Cintra (PSDB), prefeito de Porto Murtinho pela 3ª vez e dono de fazendas de gado nos dois lados da fronteira Brasil-Paraguai.
Campeão de mandatos no Município, Cintra também coleciona escândalos na vida pública e pessoal que já lhe renderam condenação judicial e um incômodo estigma, o de recorrentes denúncias de abuso e assédio sexual. A mais recente teve um desdobramento impactante na 3ª feira (1º.ago.23), quando foi alvo de mais uma investida para submetê-lo às barras dos tribunais.
O deputado estadual Zeca do PT — que também é murtinhense — pediu às autoridades que investiguem o uso de um veículo oficial da prefeitura para atender interesses pessoais. No caso, Cintra está sendo acusado de ter ido se divertir-se em uma festa particular utilizando um carro "chapa branca". Vídeos e fotos foram divulgados, mostrando o prefeito dançando na festa e sentado na traseira do veículo com duas meninas em seu colo. A idade das jovens não foi divulgada até agora.
O pedido de Zeca foi remetido ao Ministério Público Estadual (MPE) e à Secretaria de Justiça e Segurança Pública, respectivamente o procurador-geral de Justiça, Alexandre Magno de Lacerda, e o secretário Antônio Carlos Videira. Na sua manifestação, além de solicitar investigação sobre o uso do veículo público em atividade privada, o deputado propôs o esclarecimento sobre a idade das duas jovens que aparecem recebendo carinhos do prefeito e sentadas em seu colo.
Zeca teme que a forte relação político-partidária entre Cintra e as autoridades interfira no andamento do caso, justificando que em Porto Murtinho o delegado de Polícia não tomou providências ao ser informado do caso. "É inconcebível que com todas as malandragens que este cara tem feito ninguém tome providência. O MPE tem que se pronunciar e o delegado também", cobrou.
Vários episódios indicam que Cintra está habituado a desdenhar regras jurídicas e éticas, desprezando até as punições que já recebeu. O Tribunal de Contas (TCE-MS) já reprovou o uso dos recursos públicos em seus primeiros mandatos. No segundo mandato, em 2012, quis fazer da vereadora Rosângela Baptista (PMDB) a sua sucessora.
Na ânsia de eleger Rosângela, o prefeito fez de tudo: atropelou a lei e direcionou a campanha sem limite ético ou jurídico. Tanto que deu o golpe fatal na própria candidata: ao ocupar uma emissora do Paraguai para fazer sua propaganda eleitoral, deu ao TRE o motivo irrecorrível que resultou na cassação da chapa vencedora e propiciou a posse do segundo colocado, Heitor Miranda dos Santos (PT). Ele havia sido derrotado pela peemedebista por 81 votos.
Denúncias sobre a utilização de veículos oficiais para atender interesses particulares são comuns quando o prefeito é Cintra. O vereador Helton Atelle (PP) fez mais de uma e afirma que até já foi ameaçado por seguidores do chefe do Executivo. Atelle gravou um vídeo que mostra caminhões e máquinas oficiais fazendo serviços de aterramento em uma propriedade privada. Em outro caso, foi o uso de uma motocicleta que gerou protestos e indignação.
ASSÉDIO SEXUAL
No entanto, mesmo sem mandato eletivo, Cintra não deixou de contribuir com as manchetes. Quando era alto funcionário estadual — ele foi coordenador de Articulação com os Municípios e presidiu a Fundação de Turismo — um escândalo abalou o Parque dos Poderes e respingou na Governadoria. Funcionária da Fundação, a jornalista Nilmara Caramalac afirmou ter sofrido assédio sexual por parte de Nelson Cintra.
Ela formalizou a denúncia e tornou públicas, nas redes sociais, as investidas do acusado. Contou que em uma viagem ao interior ele a convidou para dormir em seu quarto e ainda pediu a ela que lhe desse uma fotografia totalmente nua... Cintra negou com veemência todas as acusações, mas no dia 10 de novembro de 2017 pediu demissão do cargo. Tinha na época 70 anos. Em 2020 candidatou-se a prefeito e se elegeu pela terceira vez.
Fonte: MSnoticias